Relembranças

"Se esta rua,se esta rua fosse minha
eu mandava, eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante,
para o meu, para o meu amor passar."

Cantei muito esta modinha em rodas com dança na minha infância. Sou do tempo em que era possível brincar sem brinquedo.

Juntavam duas crianças e já era possível se divertir. Muita música , dança e alegria .Brincávamos de Estátua, de dança das cadeiras, Mandrake, bolinha de gude, tampinhas(eu era craque).Fazíamos telescópio, fantoches de papel,e por aí vai. Tudo muito barato e feito por nós mesmos. Quando passava a chuva, nossos barquinhos de papel já começavam a navegar no meio fio da calçada. O impressionante é que não tinha adulto para ensinar,as brincadeiras passaram de criança para criança ao longo dos tempos.

Presentes, só se ganhava duas vezes ao ano, no aniversário e no natal. A espectativa era maravilhosa. Poderia enumerar vários presentes que ganhei , as cores, até o cheiro eu me lembro. A primeira bicicleta era vermelha ,aro 24, da marca Catraca, eu tinha sete anos.Nunca eu vou esquecer. Num ano ganhei um bebê de borracha que podia molhar, no outro, o enchoval dele feito pela minha mãe. Todas roupas do bebê cabiam numa caixa de sapato.Até minha filha nascer eu ainda tinha o bebê de nome Luis.Ficou tão velho que a borracha dele colava nas mãos,mas eu adorava, ainda sinto saudade dele.

No carnaval, as fantasias eram de papel crepon,que nossa vizinha , amiga e minha professora de ballet Lenita Ruchel fazia para todos da rua. A nossa rua era uma festa, todos eram amigos, e nós brincávamos na rua como se fosse o pátio de nossas casas.

Uma brincadeira boa de menina eram as roupas de papel com dobradiças que trocávamos nas bonecas de papelão. Tínhamos cadernos de Recordação .A gente passava para as pessoas que tínhamos afeto, parentes e amigas.Tenho ainda meu álbum e guardo com muito carinho. Era uma honra receber de alguém para registrar nosso carinho.

Recordo ainda da minha primeira professora no Colégio Farroupilha (era onde hoje é o hotel Plaza), Dona Renê. Não me lembro do rosto dela, só sei que era linda.

Passei a recordar a rua da minha infância, olhando a galharia (um absurdo, tomou toda o passeio) que está na minha calçada desde domingo quando a CEEE cortou os galhos das árvores para consertar os fios .

"Se esta rua, se esta rua fosse minha"

eu mandava... eu mandava... limpar"

Ainda não fizeram a limpeza, e pensei; se eu fosse criança e morasse ainda naquela rua, hoje eu não poderia brincar.